Pesquisa

sábado, 19 de janeiro de 2013

Prelúdio para o início

Que pena seria, correto?

Se o escritor, tão ardiloso com suas mãos, fosse estrangulado.

Que pena seria, correto?

O seu corpo cair no chão, sem barulho, e sem emoção. Olhos abertos indignados, morto por um personagem que ele tinha criado.

Que pena seria, correto?

Se ele tivesse terminado a canção. Nela o ladrão iria aprender a lição. Pelos braços da lei, viveria condenado ao exílio da vida, como que por um rei.

Que pena eu receberia, pergunto?

Pena por existir? Não existe essa beldade. Que pena seria se o escritor, um dia, olhasse para o teclado e, em vez de um final feliz, me visse no reflexo de seus olhos.

Que pena, correto?

O escritor do musical, ingênuo como uma formiga que abocanha o bolo de laranja em pleno jantar de natal, achar que de todos os lugares de onde o assassino se esconderia,

nunca estaria aonde ele está.


Olhos de vidro ao altar. Suicídio é muito vulgar.



Por fim, que pena seria, correto?

Se no último lamento, o escritor decidisse deixar de existir para, enfim, matar seu personagem.

Com suas próprias máquinas de realidade biológicas.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Gênesis

Entre as caminhadas do nada, um suspiro.
Era antigo, era feliz, era novo.

O Nada não era... nada. Ele só não era a existência da ausência, como também significava a presença.
Cada fragmento dali possuía uma consciência perfeita, e por isso raramente se manisfestavam.

Daí surgiu o nada, aliás, daí surgiu a inexistência da criação do nada. Esses fragmentos de Nenhum já conheciam o próximo como a si mesmo, e por isso não era necessário a busca por opinião.
O silêncio e arrogância auto-declarada dos que sabiam demais (todos, no caso) trouxe nada mais do que o silêncio, a solidão constante.

Um dia, um fragmento decidiu se questionar. Adiantar que não podia saber de nada... Pois era o Nada.
O questionamento trouxe luz, um suspiro de alívio, foi inesperado e foi relaxante.
Era a mão levantada na sala de aula opressora.
Era o branco substituindo o cinza nas avenidas.
Eram as janelas do arranha-céu abrindo-se para que o ar possa entrar.

A fenda no espaço-tempo criou-se, em um período onde o nada era absoluto. Ali foi um começo de algo, uma máquina. A máquina da criação.

Capturando os inexistentes fragmentos inexistentes, eles eram jogados para dentro de um novo plano, de uma nova dimensão. Era uma expansão.
O nada estava começando a virar o Todo.

E a partícula? A causa primeira?
Nunca foi jogada na máquina da criação, já foi, ou é a máquina da criação?

Não se saberá, talvez nunca.

A questão é a transformação, o início de um novo ano, de uma nova fase, que não tem um marco definido, e sim um evento.

Se este fragmento heroico, o líder da revolução contra os iguais, pudesse falar, acredito que diria:
"Não preciso existir para comprovar-me. A minha pura contribuição já está feita, e a maior prova é feita em um movimento do que um dia se chamará "olhos". E ela se dá pela imperfeição, ao olhar os pobres animais, testemunhos de sua brilhante idiotice."

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Andar do Presidiário

"Dou valor às coisas quando elas ainda não sabem andar."

O repórter deixou de anotar essa frase em seu bloco. Virou para o preso - que com um sorriso estranho e irritadiço disse que estava negando a falsidade. Já estava condenado, não havia motivos para mentir. Não mais.

-Então, você gosta de crianças, senhor Victor?
-Não nesse tom. Não sou pedófilo. Eu acredito no milagre da vida enquanto ele impressiona.
-Como assim? Poderia detalhar mais?
-Mas é claro.

O residente número 279 hoje morava em uma pequena cela cinza. Uma única janela permitia a entrada de luz, mas, com barras de ferro estridentes e depressivas, negava a chance de liberdade.
Rodando sua cadeira de rodas no sentido contrário das barras, que separavam o repórter justo e o criminoso, dirigiu-se à sua cama.

Embaixo do travesseiro, retirou uma boneca de pano.
-Eu a fiz. Escondi do meu pai, para que ele não me chamasse de viado. Mas eu a fiz, e escondi. Até hoje, como pode ver, eu a escondo. Aqui, tente fazer-la andar.
-Isso, senhor - Disse o repórter rindo - é impossível.
-Qual é seu nome?
-Gabriel.
-Gabriel, você já viu um parto?
-Não.
-Você já viu um feto?
-Não.
-Você já viu um feto deformado?

Uma batida violenta é ouvida. Um guarda, com um porrete, fizera tremer as grades, pedindo para o prisioneiro parar.

-Então. Não. - Enfrentou-o.
-Então, veja. Aquele pequeno bolo de massa, com olhos fechados, e uma feição despregada de vida irá te surpreender.

Enquanto o repórter tentava imaginar a cena, em suspeitas de vômito, o residente voltava à posição inicial, de frente para a grade.

-Aí ele cresce. E você tem medo, tem medo que ele fique lá, parado, para sempre, nunca saia da barriga de sua mulher. Aí ela pari. É um sucesso, você é pai! Aí o filho demora a andar. E você tem medo dele ser retardado e não conseguir se movimentar.

Gabriel esperava que o guarda viesse salvar sua sanidade, mas esse já fora passear, cansado e entediado das baboseiras do presidiário. Pensou em gritar. Decidiu não.

-Aí, meu filho, ele se mexe. E aí, será que ele levanta? Levanta. É um medo. O maior medo é ele levantar. E ele levanta. A partir daí, você tem 80% de segurança dele ser uma pessoa normal. Caso provado que ele não é deficiente mental, pronto. Sua única preocupação como pai é fazer-lo ganhar o mundo.
-E... E a partir daí que ele não ganha mais sua confiança?
-Claro que não ganha. Ele é embutido de ganhar o mundo, aprender coisas que irão desafiar e moldar seu caráter. Aprende que ele tem um caminho seguro e retilíneo. Ele esquece de todo o mundo em volta, só se importa em andar. Andar, andar, andar, andar. São poucos os que decidem olhar em volta. Eu julgo o aprendizado à andar uma preparação para o mundo moderno.

Victor engasga.

-E eu tenho medo - ele escarra no chão - do mundo moderno.
-Então, senhor, isso é uma metáfora?
-Não, filho. São apenas bobeiras de um velho presidiário.

Após segundos de silêncio, Victor bate na grade.

-É claro que é uma metáfora! - Ecoa o grito junto com o soar das grades tenebrosas.
-Opa! - Diz Gabriel, jogando-se para trás em um teor de susto. Ele consegue ouvir passos. Ajuda.
-Eu tenho medo do mundo moderno porque o homem acha que sabe de tudo!

Guardas são vistos no horizonte, dois na verdade.

-Gabriel, você tem certeza que essa boneca não anda? Pois tenha medo. Medo é o que nos faz evoluir. Depois que andamos, quase não temos mais medo de cair!

Um dos guardas abre a porta, outro puxa um Taser. O repórter vira as costas e vai embora.

Após andar alguns metros, ouviu as descargas e os gritos. Decidira voltar e pegar a boneca.
E, quando o fizera, vira o homem jogado em seu próprio corpo. A cadeira era levada por um guarda, enfurecido. O outro examina a cela.

Gabriel foi embora com medo que ele tivesse morrido.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Zoom out.

A iniciativa aceita.
Um pássaro voando alto para que Ismália possa pegar.
Uma palavra dita ao vento para que ele pudesse cantarolar.
Era uma criança, que como eu, respirava, comia, cantava (mal), e curtia os Beatles e os Rolling Stones.

A criança foi seguida por impulso, viu sua irmã, brincando na areia, sozinha.
A paixão passava por alí.

Ah, que sentimento infantil é o devaneio da paixão. A natureza, e sua caixinha de areia sem graça se curva e inexiste perante ao amor mal compreendido.
Com cabelos flutuantes, um outro garotinho senta no playground, ao lado de outra garotinha.

Nosso viajante por entre mentes, observa-os com os olhos, lacrimejantes. Por dois minutos, eram o amor de sua vida, e não mais.

O que seria dele? Um poeta romantista? Um suicida?

Bastou que o sol batesse na cara dela.
Ele pegou um papel, desenhou, e representou o ato com perfeição. Mostrou a ela.

Ela, rindo em demasia, deu um beijinho no rosto da criança. Puro e agradecido, os sentimentos afloraram e se divertiram como em uma piscina sem supervisão.

Percebeu, alí, que sua arte poderia fazer sorrisos ao mundo. E a si mesmo.

20 anos mais tarde, havia desistido de mostrar as fotos que tirava da natureza, e das pessoas, e dela, de novo, para os outros. Sua arte era pra si. As fotografias para o jornal eram normais e melancólicas.

Ele guarda si mesmo somente. E para ela. Não que ela visse. Mas ele guardava.

Tudo começou com rabiscos, passeou por entre a lente, terminou em uma televisão. Olhos brilhantes furados por vidro.

Engraçado como natureza e tecnologia coexistem. 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lente de aumento

O fotógrafo olhava sua maior criação, a foto da mulher perfeita.
Ela não deveria ser tão fantástica, talvez nem perto disso. Porém, todos os seus poros inspiravam sua beleza estonteante.

Sempre parada no parque municipal, fazendo palavras cruzadas, ensaboada em sol, vestida de pano e com olhos de girassol.

Na vida de um fotografo, um clique e uma posição errada, significam uma má foto. Mas ela não conseguia ter um mal ângulo. Um fotógrafo tirando uma foto dela só poderia significar que Van Gogh estaria desenhando "Vaso de Cobre" novamente.

Um dia, perdendo a vergonha, resolveu perguntar se ela aceitaria tirar uma foto.

Ela riu com a idéia, mas recusou gentilmente.
Pelos próximos dias, o fotógrafo quis se mostrar mais presente, tirando foto das pessoas aleatórias no parque ou dos animais que por alí viviam em paz.

E ela apenas ignorava sua existência.

Vez por vez, centenas por centenas, o fotógrafo se desiludia.

Um dia, indo para a sua casa, desligou todas as luzes.
Desligou todas as luzes.

Foi morar dentro de sua câmera.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um conto invertido

Uma arma em riste, um detetive encostado na parede do lado de fora de sua própria casa.

Seu casaco de couro bege estava acobertando totalmente seu corpo. Um chapéu, que possuía abas longas para baixo, tentando desesperadamente proteger os olhos, era o que impedia a chuva de cair no rosto humilhado do aposentado homem da lei.

O homem estava a uma situação segura. Com uma proteção no rosto, totalmente coberto por um tipo de máscara ninja, enquanto protegia-se da chuva com um sobretudo, por cima de algo que parecia uma camisa social, totalmente preta. Ele estava de luto, o fim de uma rivalidade.

"Lutamos tanto, e vamos parar agora?"
Disse o detetive, em vão.
"Pelo amor de Deus. Estou aposentado. Não sou mais o "Detetive do Caralho", que era como me chamavam. Não mato mais os bandidos que encontro, não prendo. Eu apenas tomo café e vejo o telejornal. Já faz seis anos. Você deveria se aposentar também."

O "quase-ninja" continuava paralisado, contando os momentos para que pudesse repelir toda sua raiva por um simples estalo. Só esperava a motivação. O que justificasse ele fazer isso, tudo. Ele queria uma resposta. Não só o detetive morria, mas morria também ele, sua face. Queimaria a roupa, queimaria o passado. Se renasceria ou não, não sabia, mas confiava em seus poderes de fênix. Apesar de vestir preto.

"Sabe, você sempre esteve por perto, sempre esteve tentando me deixar na merda nas investigações. E eu também sempre te deixar na merda. Se você matou pessoas, eu também matei. Você era o Moriarty do meu Sherlock Holmes."

Nesse ponto, o adversário respirou mais devagar, como se refletisse. O quase-defunto sentiu isso.

"Não sei se você sabe, mas Sherlock Holmes poderia ter sido o maior serial killer de todos os tempos. Moriarty foi seu maior professor. Talvez iguais intelectualmente, quando Moriarty posicionou seus elaborados estratagemas para criar o mal, o caos. Sherlock, vendo o maior rival de sua vida, e talvez o único, decidiu posicionar-se contra, para um jogo de mentes, ver quem seria o melhor."

Como em mil e uma noites, o detetive seduzia o atirador com as palavras.

"Foi obrigado a ficar do lado do bem. Isso o fez refletir. Por que Moriarty está do outro lado? Qual é o melhor lado? Devo lutar contra ou me juntar? Aprender? E sabe, ele ficou do lado certo. Não sei a razão, mas raciocinou até ficar do lado que decidiu. Talvez, sem o seu amado professor, acharia indiferente o crime, todos seriam muito simples e fáceis. A vida humana perderia o sentido pra ele."

O ninja inclinou a cabeça, como se a sedução houvesse chegado a realmente tomar toda sua atenção. Em meio a súplicas de vida, a sua mão tremia. Deveria aposentar-se mais cedo do que previsto? Antes de finalizar a vida de seu rival? Ele nunca vira seu rosto, se virasse e fosse embora, nada ocorreria. Nunca poderia ser achado.

E assim ele fez. Olhou para o detetive, em um flerte sombrio, contraiu a arma e deu um tiro na perna do mesmo. Virou-se e foi embora. Atirou para não ser seguido, e para que em adrenalina, o ex-policial não tivesse foco para matar-lo.


No dia seguinte, o aposentado, porém não morto, foi comprar pão. Com um gesso e os tratamentos médicos necessários já feitos na noite do dia anterior. Nenhuma queixa foi feita. Oficialmente, ele se acidentou com a própria arma.

-Boa tarde, Pedro.
-Olá, Detetive.
-Por favor. Não.
-Caralho. - E deu um sorriso fraco.
-Não, filho, nunca mais. Meu último caso foi a muito tempo. Como vai a esposa?
-Bem, bem. Vamos ter um filho.
-Outro? Ela não tava na menopausa?
-Talvez. Você pode ter se confundido com minha irmã. Minha família é muito confusa.
-Quase um labirinto.
Um frio correu na espinha de algum dos dois. Não se sabe porque, encaram-se sem razão, sem saber quem era o medroso e o confuso.
-Estou muito velho pra essa porra. Me dá 3 pães.

Pedro botou os pães no saco.

-Aqui está.
-Obrigado. Ah, e a Rainha avança duas casas.

Pedro agradeceu, e movimentou a peça no tabuleiro. E depois fez sua jogada.
Todo dia o detetive ia, e jogava, e a partida já durava séculos, sem nenhum vencedor.

Um padeiro e um homem da lei, competindo intelectualmente para ver qual dos dois receberá uma barganha maior na hora de comprar pão.

Ou será que não?

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dois Vasos Verdes Vazios, Preenchidos de Devoção, lá e de volta outra vez.

"Tudo terminou como começou, pai."

Disse a filha, segurando um disco de vinil. Os seus olhos eram raras pétalas amargas.
O seu vestido, azul, desbotado, agrupava-se com o máximo de atrito possível por sua pele.
Suas sandálias, verdes e feias, estavam em pés desviados da posição certa.
Com a maquiagem, roubada da mãe, borrada de tanto chorar.

A casa fedia a mofo. Só foi o tempo de João voltar de sua viagem, que lá encontrara tudo sujo.
Sua esposa afundada em um sono, afundando seu subconsciente em Whisky e Vodca.
A filha, chorando na sala, ouvindo um Viníl do Queen no toca discos.
A tevê e todos os eletrodomésticos quebrados.

"Filha, vem cá, o que houve?"

Por mais que parecesse calmo, tentava não se desesperar, até porque ele não sabia o que a pequena Maria tinha suportado nos últimos dias. Desistiu da fúria pela negligencia de sua mulher, agora perdida entre sonhos e esperanças em sua própria mente.

"Tudo, pai."
E chorou sem parar.

Ele sentiu um cheiro estranho, só para notar que vinha da própria Maria. A quanto tempo ela tinha tomado banho?
Viu alguns arranhões em seu braço quando ela tentou secar as lágrimas.

"Essa foi a primeira vez...?"
"Não..."

O pai, que antes estava de joelhos, levantara e caminhara para o quarto da mãe, no andar de cima, enquanto sua filha lhe dava a mão.

O chão, todo de madeira, gritava a cada passo. A agonia que João sentia não era pertencente à aritmética, tinha proporções caóticas.

Três dias de viagem para que o inferno ressuscitasse naquela casa. Amanda já tinha gritado e enlouquecido antes, mas nunca depois de terem sua primeira semente no solo do mundo. Ainda mais enlouquecido com ela.

Abriu a porta e ela observou a mãe, deitada em uma cama nojenta, onde pedaços de macarrão e molho se misturaram ao carpete, e o abajur entrara na Televisão, talvez para iluminar os circuitos internos.

Em desespero, a filha jogou-se no chão.

Abrindo a mala, o pai puxou uma pequena flor, e entregou-a. Suspirou fundo, tentando esconder suas lágrimas, e disse:

"Filha, papai já foi fraco, como a mamãe também já foi. Vou te contar uma história." - Parou para que suas lágrimas pudessem respirar. "Uma vez, houve uma rainha muito má. Eu a matei. Seu pai veio com uma espada, e enfiou-a em seu peito, como se a entregasse também uma rosa, e beijei seu cadáver. Ela voltou à vida como se florescesse em espanto. Andamos, criamos uma loja. Nos casamos, fiz-a vestir um vestido de rosas, só para que pudesse purificar-se sempre. Eu deixei o jardim morrer, filha. A culpa foi toda minha."

A filha não havia entendido, mas a voz confortável do pai a ajudara a reconfortar-se.

"Venha cá, minha pequena árvore. Vamos chorar juntos, não pela tristeza, mas pela renovação."

No dia seguinte, a mãe foi enterrada. Se mudaram para a loja do pai, tentaram viver felizes, e quase conseguiram. Mais velha, a filha perguntou ao pai:

-Pai... Uma coisa me vêm tirando o sono.
-Sim, filha, diga.
-Por que a culpa do jardim morrer, foi sua?

O pai pigarreou. Pediu para o assistente retirar-se.

-Porque, filha, eu me preocupei muito em podar as plantas ruins que cresciam, e acabei esquecendo de deixar sua mãe encontrar o equilíbrio. Fui pela cabeça de meus amigos, era inseguro de deixar que ela seja vista. Ela era minha planta mais perfeita. A rainha do meu jardim. Os poucos que viam ela eram privilegiados. Fui fraco, fui egoísta. Quis agradar a todos, e nunca agradei ela. A perdi para sempre. Colhi as suas plantas negras, mas nunca imaginei que ela as precisasse. Ela se afundou em insegurança e medo.

Quando terminou o monólogo, percebeu que a sua filha estava mais confusa ainda.

-Filha, pegue o seu lanche. Um dia eu te contarei melhor.
-Tá bom, pai...

Enquanto ela caminhava, ele olhou pela porta dos fundos, aonde na colina viu o túmulo de sua fadada esposa. Agora, onde um grande orvalho cinza havia nascido.

Mais tarde, o sino de que alguém entrava era presente.

Um rapaz, procurando uma flor para a amada.

O homem já sabia de onde iriam sair aquelas flores. De onde tudo começou, e se Deus quiser, não acabará por lá de novo.